REFLEXÃO FILOSÓFICA: O QUE É POLÍTICA E OQUE NÃO É A POLÍTICA.
A política acompanha a história humana desde os primeiros esforços para organizar a vida em comunidade. No pensamento clássico, Platão compreendia a política como um prolongamento da filosofia moral. Para ele, governar significava promover justiça, harmonia e equilíbrio na cidade, tarefa que só seria plenamente realizada por quem conhecesse o Bem — o filósofo-rei. Aristóteles, seu discípulo, adotou uma abordagem mais prática: o ser humano é, por natureza, um animal político. A cidade existe para possibilitar o bem comum, a convivência virtuosa e a realização plena da vida.
Com o passar dos séculos, o debate político se transformou. Maquiavel, em O Príncipe, rompe com a tradição moralizante e descreve a política tal como ela é, baseada na realidade concreta do poder. Para ele, governar exige virtù — a capacidade de agir com firmeza e prudência — e compreensão de que a estabilidade do Estado deve prevalecer sobre a popularidade de certas decisões. A política, nesse sentido, torna-se a arte de preservar o governo e orientar o destino coletivo, mesmo diante da imprevisibilidade da fortuna.
Karl Marx desloca o campo de análise para a estrutura econômica. A política, em sua perspectiva, é expressão da luta de classes: cada disputa institucional revela interesses materiais em conflito. O Estado seria, assim, instrumento da classe dominante, e a verdadeira transformação viria da mudança das condições sociais e econômicas. Heidegger, por outro lado, vê a política moderna como parte da crise existencial da humanidade. Quando a técnica passa a determinar o modo de vida, pessoas e instituições perdem profundidade, e o homem é reduzido a recurso — um sintoma do esquecimento do Ser que atinge até os espaços de decisão pública.
No cenário contemporâneo, Olavo de Carvalho interpreta a política como disputa moral e cultural. Para ele, a vida pública se define pela luta entre narrativas, pela formação da consciência e pela defesa da liberdade individual frente a sistemas ideológicos que tentam moldar o comportamento humano. A política deixa de ser apenas institucional e passa a ser também espiritual e cultural.
Entretanto, é no contraste com essas concepções que percebemos o quanto, em muitas cidades do interior, a política real nem sempre se aproxima da política ideal. Em vez de diálogo e participação, surgem práticas que distorcem o sentido legítimo da política: manipulação, promessas condicionadas, favores pessoais e pressão psicológica para garantir apoios. A perseguição política aparece quando quem discorda é isolado ou tratado como adversário a ser eliminado. A coação se manifesta no uso do medo como instrumento de controle, seja por meio de ameaças veladas, seja pela utilização indevida de estruturas públicas para influenciar decisões individuais.
E aqui entra a parte mais importante da conversa: isso aí que o povo costuma chamar de “política” não é política, não. Política de verdade não se faz empurrando o povo pra um lado, nem obrigando ninguém a calar a boca por medo de perder um favor. Política não é tapa na mesa, não é aperreio, não é pressão, não é aquele mandonismo antigo que ainda insiste em sobreviver nas cidades pequenas. Isso é abuso disfarçado de liderança, é esperteza travestida de serviço público.
Chantagem, retaliação, intimidação e troca de favores por voto são práticas que não têm nada da política defendida por Platão, Aristóteles, Maquiavel ou Marx. Não têm nada de democrático, não têm nada de justo. São apenas distorções — formas pequenas de poder que empobrecem a vida comunitária e afastam o cidadão do debate público.
A política de verdade é diálogo, é respeito, é construção coletiva. É servir, e não mandar. É o compromisso com o bem comum, com a liberdade e com a dignidade de cada pessoa. Quando a política vira instrumento de medo, a comunidade enfraquece, a democracia se perde e o povo passa a viver refém de quem deveria trabalhar para ele.
Resgatar o sentido verdadeiro da política é lembrar que ninguém deve ser manipulado, coagido ou silenciado para que outro se mantenha no poder. A política é do povo, é para o povo, e não pode ser usada como arma para controlar a cidade. Quem tem serviço de verdade não precisa apertar ninguém — basta mostrar o trabalho que o povo entende.
Por Prof. Esp. Jhony Túlio
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