ANALISE: Notas revelam guerra de versões na Araçá FM – censura institucional ou desobediência editorial?

Notas revelam guerra de versões na Araçá FM – censura institucional ou desobediência editorial?

Quando disputas políticas encontram microfones, a verdade vira território em guerra. Foi exatamente isso que aconteceu na Araçá FM, rádio comunitária de Mari (PB). Dois documentos oficiais – uma nota assinada pelo presidente da emissora e outra assinada pelos radialistas Emerson Aluísio, Mayara e Alex – revelaram um conflito que ultrapassa a simples divergência profissional. Estamos diante de algo maior: uma batalha  que coloca em debate liberdade de imprensa, autonomia editorial, manipulação e poder local.

De um lado, a direção da rádio, defendendo disciplina interna e punições por supostos “exageros jornalísticos”. Do outro, os comunicadores suspensos, denunciando “constrangimento, censura velada e tentativa de calar uma linha editorial crítica”. Entre acusações e defesa, o povo de Mari assiste – mais uma vez – a velha luta entre quem controla o discurso e quem tenta questioná-lo.

Antes de qualquer análise, é preciso ler as versões na íntegra. A verdade, quando existe, mora sempre nos detalhes.


NOTA OFICIAL – PRESIDENTE DIRETOR DA RÁDIO ARAÇÁ FM


NOTA PÚBLICA DE ESCLARECIMENTO

Na qualidade de presidente da Associação Rádio Comunitária Araçá FM, venho, por meio desta, prestar esclarecimentos aos associados, ouvintes desta emissora comunitária e à comunidade em geral.

Assunto: Suspensão do Programa Araçá em Debate

No último sábado, dia 11, por uma decisão minha, o Programa Araçá em Debate não foi ao ar pelos seguintes motivos:

Na manhã daquele dia, recebi uma informação sobre uma reunião que havia ocorrido na noite anterior, na qual um agente externo à emissora havia se reunido com dois apresentadores do Araçá em Debate, propondo restrições aos temas a serem abordados no programa.

Ao tomar conhecimento do ocorrido, entrei em contato com os apresentadores que, segundo a informação recebida, participaram da reunião e solicitei uma conversa para devidos esclarecimentos; no entanto, eles não atenderam à minha solicitação e apenas chegaram na hora de iniciar o programa.

Diante da gravidade da informação que recebi e da recusa dos apresentadores em dialogar sobre o problema, não me restou outra alternativa senão SUSPENDER de imediato o programa até que os fatos fossem devidamente esclarecidos.

Apenas cumpri meu dever de zelar e proteger os objetivos e princípios da nossa emissora comunitária.

Por último, informo que a reunião para os devidos esclarecimentos ocorreu na noite dessa quarta-feira (15/10/2025) e contou com a participação dos apresentadores do programa jornalístico e dos membros da Diretoria Executiva da emissora. Enquanto eu estiver assumindo a direção deste importante meio de comunicação comunitária, não hesitarei em adotar as medidas necessárias e legais para manter nossa emissora no rumo correto.

Mari, 16 de outubro de 2025

Atenciosamente,

assinatura

José Joaquim da Silva

Diretor

CNPJ: 02.471.543/0001-12

Rua: Antônio de Luna Freire – S/N – Centro – Mari – Paraíba

Cep: 58.345-000 – Fone: (83) 99826-1450 / (83) 99811-7883

Home Page: www.aracafm.com – E-mail: radioaracafm@hotmail.com


NOTA OFICIAL – RADIALISTAS SUSPENSOS


Esclarecimento dos Apresentadores do Programa Araçá em Debate. Em resposta à nota emitida pelo presidente da Associação Rádio Comunitária Araçá-FM, Sr. José Joaquim da Silva (Zezinho), sobre a suspensão do Programa Araçá em Debate no dia 11 de outubro de 2025.

Esclarecemos aos ouvintes, sócios, apoiadores e à comunidade os seguintes pontos abordados pelo presidente Zezinho em sua nota:

01 - Sobre a reunião mencionada: O encontro citado pelo presidente ocorreu na noite da sexta-feira, 10/10, de forma social e informal, com o coordenador de comunicação Marcos Sales; ex-comunicador, ex-sócio e amigo pessoal dos apresentadores Emersson Aluizio e Mayara Paiva. Nos encontramos em frente à emissora e seguimos até o Espeto na linha do trem, em local público. Não houve reunião formal, como foi dito de forma equivocada, apenas uma conversa descontraída sobre assuntos diversos. Mesmo qualquer tema relacionado à gestão municipal tivesse sido tratado, isso seria legítimo, pois Marcos Sales responde pela comunicação municipal e, naquela noite, foi publicado um decreto assinado pela prefeita que trazia a exoneração de diversos servidores públicos contratados, fato público e de interesse jornalístico. Portanto, não houve pauta definida com interferência externa, uma tentativa de corroer a gestão nossa experiência de mais de 10 anos na comunicação comunitária e nossa responsabilidade ética.

02 - Sobre a tentativa de diálogo na manhã de sábado 11/10/2025, o presidente entrou em contato com os apresentadores às 07h30, convocando uma reunião apenas 30 minutos antes do programa ir ao ar, impossibilitando o comparecimento de todos, já que nem todos viram a mensagem a tempo. Mesmo assim, ao chegarem à emissora, os comunicadores se colocaram à disposição para dialogar e prestar esclarecimentos. Contudo, o presidente já havia decidido unilateralmente suspender o programa, sem prévia deliberação da Diretoria Executiva.

03 - Sobre a decisão de suspender o programa: A suspensão do programa ocorreu de forma unilateral como assumido na nota, contrariando o princípio da gestão coletiva e democrática que rege as rádios comunitárias (Lei nº 9.612/98) e o Estatuto da Associação. Não houve comprovação de qualquer irregularidade que justificasse a censura prévia. A decisão baseada em boato não verificado fere a liberdade de expressão e a autonomia editorial, garantidas pela legislação das rádios comunitárias. Impedir a veiculação de um programa por mera suposição constitui censura e contraria a essência de uma emissora comunitária, que deve promover diálogo, diversidade de opiniões e acesso democrático à comunicação.

04 - Sobre a reunião do dia 15/10/2025: A reunião mencionada não foi convocada por ele enquanto presidente, nem pelos demais diretores, mas sim solicitada formalmente pelos comunicadores do Programa Araçá em Debate e Liberdade de Expressão. Pedido este com registro em ata, entrega de convite a todos os diretores da emissora e com registro de recebimento. O objetivo da solicitação dos comunicadores era debater diversas situações que vêm ocorrendo na emissora, especialmente decisões que contrariaram o espírito de pluralidade e participação social da rádio. No entanto, fomos impedidos de pautar os temas previstos, e o presidente tomou a frente da reunião lendo parte do estatuto e assegurando-se no Art.19. Que diz: Que caberá ao presidente: (a) Coordenar as reuniões da Diretoria e Assembleia Geral; ou seja, as reuniões formais convocadas pela diretoria ou pela assembleia, dentro das instâncias oficiais de decisão da entidade. E a reunião solicitada pelos comunicadores do jornalismo da emissora, não era uma reunião DA DIRETORIA ou ASSEMBLEIA GERAL, mas um ENCONTRO solicitado por comunicadores com a diretoria, o que tem outro caráter, não institucional de deliberação, mas de DIÁLOGO 

...ou ESCLARECIMENTO. O presidente tem prerrogativa sobre reuniões formais da entidade, mas não tem poder para impedir reuniões informais, de trabalho ou diálogo interno, desde que não contrariem o estatuto. Diante desta situação conflituosa ele seguiu se impondo na reunião como o coordenador restringindo a discussão apenas ao episódio do dia 11/10/2025. Mesmo, com alguns diretores falando claramente que queriam ouvir as nossas pautas, razão por estarem ali no momento.

Reiteramos: Não houve recusa ao diálogo, mas sim cerceamento da fala e restrição à atuação legítima dos comunicadores. Além disso, ao tomar decisão com base em informações de pessoa externa, ignorou o princípio da boa-fé e da análise fundamentada, essenciais para qualquer decisão administrativa.

05. Conclusão: O programa Araçá em Debate sob o comando dos comunicadores Mayara Paiva, Emersson Aluizio e Alex Cândido sempre atuou com responsabilidade e compromisso com a verdade e a comunidade.

E se houver impedimento de futuras transmissões conosco, os ouvintes podem ter certeza de que isso se deve a atos de censura, e não à falta de profissionalismo ou descumprimento de normas por parte dos comunicadores.

Atenciosamente,

Mayara Paiva, Emersson Aluizio e Alex Cândido.

(Assinaturas manuscritas)

Mayara de Silva Chaves Paiva

Emersson Aluízio da Silva

Alex Cândido da Silva

CONTRADIÇÕES E PONTOS EM CONFLITO ENTRE AS NOTAS

Ponto Direção da Rádio Radialistas
Motivo da suspensão "Descumprimento de normas internas" "Retaliação por opiniões críticas"
Natureza da medida "Não é censura" "Censura velada e perseguição"
Diálogo interno "Emissora aberta ao diálogo" "Não houve comunicação prévia"
Linha editorial "Deve ser respeitada" "A rádio não pode ter dono ideológico"
Interesses "Institucionais e comunitários" "Pressões políticas externas"

Há duas realidades aqui: a que é dita e a que é silenciada. Elas não convivem, se estranham.

Esse caso é um exemplo didático de consciência de classe em disputa. A direção fala em “normas internas”, mas não as apresenta. Isso é típico da ideologia dominante: naturalizar a hierarquia sem revelar quem determina as regras.

Já os radialistas, mesmo sem usar linguagem acadêmica, demonstram consciência crítica: denunciam o controle do discurso, apontam pressão de forças políticas invisíveis e afirmam o papel social do rádio. Na teoria marxista, isso se chama luta pelo controle dos meios de produção ideológica. Aqui, o “meio de produção” é a rádio. A disputa não é sobre regras. É sobre poder. Quem fala? Quem cala? Quem manda no rádio comunitário?

Freud explica que grupos manipulados por narrativas emocionais entram em histeria coletiva: aceitam punições sem questionar, repetem argumentos prontos, atacam quem pensa. Parte do cenário local já reproduz isso: há quem aplauda a punição sem sequer saber o motivo. Quem ganha com isso? Não é o povo. É sempre quem controla a narrativa.

Se não há censura, por que suspender comunicadores sem reunião e sem apresentar prova de infração? Se a rádio é comunitária, por que decisões tomadas sem a comunidade de sócios?

A pergunta inevitável é:

Quando jornalistas são punidos por pensar, a quem interessa o silêncio?

Assim, fiquemos atentos os próximos capítulos dessa história, que fará parte da história da imprensa mariense.


Redação Jornal Mariense Sim Senhor 

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